O Vaticano apresentou pelo 3º ano consecutivo um orçamento que faria corar alguns gestores da nossa praça. Desta vez as perdas foram de 4,1 milhões de euros. A juntar aos nove milhões do ano passado começo a achar que ou Deus Nosso Senhor não tem mão naquilo ou os homens é que são fraquinhos a gerir o estabelecimento.
Eu não sei o que diria Cristo, enviado especial de Deus à Terra, se visitasse as instalações da Santa Sé, mas certamente não é preciso ser-se Nobel da Economia para perceber que o Vaticano está um pouco, como é que hei-de dizer isto, sobredimensionado em relação à realidade dos demais habitantes do Universo de Deus. Senão veja-se: "O palácio Apostólico, complexo onde reside o Papa, tem 11 mil e quinhentos aposentos, dos quais 5 mil quartos, 200 salas de espera, 22 pátios, cem gabinetes de leitura, trezentas casas de banho e dezenas de outras dependências destinadas a recepções diplomáticas"
Não vou entrar em demagogia barata e dizer que isto talvez seja um pouco demais para uma Igreja que apela à humildade, em muitos casos ao voto de pobreza. Até porque toda a gente sabe, católica ou não, o jeito que dá ter uma casa de banho à mão de semear quando estamos apertados. Mas talvez não fosse má ideia rever a necessidade de tanta assoalhada. Um T3 duplex com capela e aparcamento para 3 papamóveis não seria o suficiente?
Doutra forma sujeitam-se a alguns mal intencionados apontarem uma Igreja Católica a viver em permanente estado de opulência enquanto grande parte dos milhões de pessoas que a sustentam com doações por essas Igrejas mundo fora sobrevivem na mais profunda pobreza. E isto seria uma grande mentira. Há por isso que evitar estes boatos.
Aqueles, muitos provavelmente católicos praticantes, que tiveram de entregar a casa ao banco porque não têm dinheiro para a prestação do crédito são capazes de não compreender, ao reflectirem durante a missa num domingo qualquer, porque é que o Papa continua a viver no seu T 11500 mesmo com dívidas de 4,1 milhões?
Porque raio é que Deus é tão generoso dentro das trezentas mil paredes do Vaticano e eu vivo numa garagem com o gato a urinar-me na almofada, pensarão alguns. Porque é que esta malta toda dorme com as cabecinha em almofadas de peninha de ganso dos lagos do Tirol, com o corpinho assente em lençóis de Linho do Egipto refastelados num dos cinco mil quartos e eu tenho de dormir no banco de trás de um Seat Ibiza de 1992 com a cabeça enfiada numa almofada do Lion King a cheirar a ranço? Porque é que eu, que dei dinheiro a esta gente durante toda a minha vida, faço a barba na casa de banho da estação do metro e esta malta tem uma casa de banho diferente para cada dia do ano? Perguntinhas pertinentes que muitos certamente farão.
Fácil. O Papa não tem crédito. E se tivesse seria no Banco do Vaticano, o IOR, que gere contas bancárias das ordens religiosas e associações católicas e beneficia ainda do estatuto off-shore do Vaticano. Curiosamente está neste momento a ser investigado por alegado envolvimento em esquemas de lavagem de dinheiro. Tudo calunias obviamente. Foi apenas OMO a mais a lavar os paramentos.
Não sei se Cristo estaria de acordo com este tipo de Gestão e estilo de vida.