quarta-feira, 17 de novembro de 2010

E Depois do “Adeus”

Tinha cerca de 14 anos quando conheci o Sr. “do Adeus”, basicamente na Av. Fontes Pereira de Melo (Junto ao Whispers, que saudades que sinto desta grande discoteca) a acenar para os carros que lá passavam e para as pessoas.

Sempre de sorriso na cara, mesmo que esse sorriso fosse simplesmente uma capa para afastar todos os seus fantasmas, para afastar a verdadeira razão que o levava a estar noite e dia a acenar para tudo e todos.

Infelizmente, lembro-me de saber que varias vezes tinha sido, agredido, roubado, insultado, etc. (sinceramente espero que essas pessoas não tenham ido à despedida do Sr. “do Adeus,” pois isso seria o cumulo da hipocrisia, mas dessas “pessoas” já tudo é de esperar), penso que aos 15 anos, um dia, sai do Whispers cheio de “coragem” e fui falar com ele para saber o porquê de ele estar ali e, basicamente, explicou que se sentia sozinho, que não gostava de estar sozinho, que não tinha ninguém e estar ali era uma forma de colmatar todos esses problemas.

Sinceramente, fiquei estupefacto. Não me lembro do meu pensamento no momento mas, entre tantos pensamentos, um deles deveria ser que quando chegar a está idade não quero ser assim, sentir-me sozinho e abandonado por tudo e todos. Não, isso não quero.

Senti que não temia a morte, simplesmente, temia o morrer sozinho, sem amparo nem conforto de alguém.

Um lição de vida sem dúvida!

A partir desse dia, cada vez que passava por ele, tanto na zona do Saldanha como na zona do Restelo, fazia questão de buzinar para ele acenando também (que era mais um “está tudo bem” e relembrar -me de imenso momentos da minha adolescência).

Com tristeza, soube que o Sr. João Manuel Serra faleceu no passado dia 10 de Novembro, com 80 anos de idade.

Se ele sonhasse com a homenagem que lhe foi prestada ficaria espantado, não sei se por bons ou maus motivos mas, como ele era uma excelente pessoa, seria por bem certamente pois, também tinha consciência que neste país os homenageados, normalmente, já estão mortos (é o país que temos).

Deixo uma ideia ou uma simples sugestão - penso que o Sr. “do Adeus” era um ex-líbris da cidade de Lisboa e, com tanto dinheiro mal gasto ou gasto de forma estranha, tantas estatuetas do Cutileiro com forma estranhas ou pouco convencionais, poderia ser feita uma estatueta do Sr. “do Adeus” e ser colocado na Avenida Fontes Pereira de Melo ou no Restelo, penso que seria um acto simbólico mas com muita importância para a cidade pois, todos se lembram do Sr. “do Adeus” ou não? No fim de contas teve centenas de pessoas na sua homenagem de despedida no dia 11 de Novembro.

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