O empresário da sucata Manuel Godinho, preso preventivamente no âmbito do processo Face Oculta, enviava todos os anos, no Natal, centenas de prendas a políticos, autarcas, gestores de empresas públicas e funcionários de organismos do Estado.
O tipo de presente, os valores e os nomes dos destinatários – classificados de A a F, em função da importância que cada um assumia para Godinho – constam de centenas de documentos, com datas compreendidas entre 2002 e 2007, que foram apreendidos pela Polícia Judiciária (PJ) nas buscas às empresas e a casa do empresário.
Para o Ministério Público (MP), estas listas constituem uma das provas do «projecto delituoso» construído pelo empresário de Ovar para obter vantagens para as suas empresas.
Além disso, é demonstrativo da forma como Godinho encarava as suas relações empresariais: estabelecendo uma teia de «cumplicidades», que estes presentes procuravam potenciar, a qual podia ir do primeiro-ministro ao chefe de segurança de um armazém de uma grande empresa.
Sócrates como AAA
Nos documentos apreendidos pela PJ, o nome do primeiro-ministro surge duas vezes: nas listas dos presentes de Natal de 2004 (altura em que Sócrates era já líder do PS) e nas de 2006.
O sucateiro destina-lhe um decantador de cristal com base em prata (no valor de 685 euros) no primeiro ano, e uma caneta Montblanc e um relógio (sem referência ao que custam), no segundo.
A classificação atribuída pelo sucateiro ao líder socialista, num ano e no outro, é AAA – ou seja, tão importante como Armando Vara e Jorge Coelho (outros dirigentes socialista a quem Godinho pretendeu dar presentes de Natal), António Mexia, presidente da EDP, ou a ex-secretária de Estado dos Transportes Ana Paula Vitorino (cujo nome só surge uma vez).
in Sol